terça-feira, 24 de julho de 2012

Sons Parabólicos, Canções e Metamorfose.



As pessoas divergem em muita coisa, mas com certeza não há alguém no mundo que não se deixe encantar pela valsa de alguma música. E é sobre esse assunto que conversaremos hoje.           
Caro leitor, este que vos escreve é pseudo-compositor, amante da música e assim como muitos de vocês, tem seus ouvidos constantemente perfurados pela música da contemporaneidade. Não fossem apenas os abusos, muitas vezes ainda ouvimos e comentamos músicas insanas, com a finalidade de que essa maldita sociedade nos aceite, e é vergonhoso, mas isto também acontece comigo, e você que está rindo, lembre-se de que também é humano (seu santo em tamanha perfeição). Mas não nos ocupemos disto, posto que uma leve dose matutina de 23 comprimidos de Prozac, o famoso remédio da alegria, resolva.
A música meus doutos. Ah! A música... Larali... Laralá..Lará  - Trololololó...lolololo - Tchu, tchá, tchá, tchú, ô dona Maria quero comer seu bolo, dentre as mais variadas formas de compreensão do ser através do espírito sonoro. Como o apercebido desde as canções eruditas de Mr. Catra, Valeska popozuda, e o que dizer do pagode, o qual muitos têm por samba, e que, a cada nota me faz chorar por toda a sua calúnia diferida contra o real ritmo brasileiro. O samba de Cartola e de Noel Rosa. Nas sábias palavras de Arthur Schopenhauer: “a música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” Deve ser por isso que tenho total repúdio por esses tipos musicais acima descritos, acho que não os compreendo, sabe amigo? Prometo, mais uma vez aproveitando o período eleitoral, que no dia que compreendê-los, eu me matarei.
Contudo, o perpassar pela grande engrenagem da história é de fundamental importância para que entendamos não apenas o motivo das sucessivas agressões ao meu ouvido, como também, a denominação de sociedade evoluída ao todo global hodierno.
É certo que desde antes da escrita já se produzisse música, datando mesmo, vestígios de uma flauta feita de ossos por volta do ano de 60.000 a.C., e por volta de 3.000 a.C., a presença de liras e harpas na antiga Mesopotâmia.  O termo música é de origem grega, derivando de musiké téchne, ou seja, a arte das musas, que na Grécia antiga designava além da música, a poesia e o teatro.
Todavia, desde sempre, o homem concebe a música como algo maior do que a arte, entendendo-a como ente transcendental. Na antiga Grécia, a mesma encontrava-se enleada à magia e à mitologia; além do mais, para eles a música fazia parte do devir, ou seja, da concepção grega do status do mundo, explicando a existência do homem e a regência divina. Na Índia, diz-se que, o próprio Brahma ensinou o canto ao profeta Narada e este, transmitiu-o aos demais homens. Na tradição chinesa a música confunde-se com o chamado Huang chung, ou seja, o eterno sagrado. No Egito, há o mito de que o deus Toth criou o mundo por meio dos sons, canções também eram usadas nas cerimônias e ritos religiosos e militares. O povo babilônico abordava os sons unindo-os ao cosmo em uma concepção matemática das vibrações acústicas, muitas vezes representadas na astrologia.
Contudo, na Idade Média, a qual muitos entendem por idade das trevas, e que não foi bem assim, pois se produziu muito, pena que essas produções tenham ficado com os membros mais abastados e ligados a igreja, criam-se novas concepções musicais baseadas no sagrado, tais como hinos e cânticos que foram sendo aperfeiçoados, dando origem a estilos de canto litúrgico, como o galicano, o moçárabe e o gregoriano.
Por volta do século XVI, tem início a chamada música erudita. Esta, em uma definição geral é aquela que se encontra em oposição a musica popular ou música folclórica, sendo ainda aquela que possui clareza, austeridade, estruturação formal objetiva, limites e austeridade.
           Ao longo da história da música percebemos como a mesma está ligada a literatura em suas fases, como o: renascentista, o canônico, o barroco, o clássico, o romântico, o moderno, dentre outros.
O ilustre pensador suíço, Jean Jacques Rousseau, concebe a musicalidade afirmando-a assim: “mesmo que toda a natureza esteja adormecida, o que a contempla não dorme, e a arte do músico consiste em substituir a imagem insensível do objeto pela dos movimentos que a sua presença excita no coração do contemplador: não só ele agitará o mar, animará a chama de um fogo, fará correr os ribeiros, cair a chuva e aumentar as torrentes, como pintará o horror de um deserto medonho, denegrirá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a tempestade, tomará tranquilo e sereno o ar, e da orquestra espargirá nova frescura sobre os bosques”.
Conheci o que chamo de música por volta dos 13 anos, quando me foi apresentado a banda do Paulo Ricardo, o RPM; fiquei fixo na TV por horas ouvindo aquela sonoridade pulsante do rock embebida em letras de protesto que interagiam com minha freqüência cardíaca de quase adolescente. Apaixonei-me por rock, àquela época eu passava por muitas mudanças, sabe? Tudo era estranho, você é estranho e sua família não entende que você é diferente. Perdi-me em Riffs e solos, de Black Sabbath a Guns’n Roses. Foi um período de transformação que todas as pessoas passam, principalmente as esquisitas (onde me encaixo), tive fases melancólicas, ainda as tenho, ah! Todo escritor tem, e isso, talvez por ser muito passivo a sentimentos fortes. Logo depois meu pai montou uma locadora e pude conhecer um pouco da Legião Urbana, no álbum - Mais do Mesmo. Escutem, Legião Urbana não é apenas música, é sonho, é grito de protesto, é liberdade, é caricatura de jovem. Ouçam Legião também, o Renato Manfredini era um ser em contraste, um cara ímpar que nasce de milênio em milênio, o cara forjou minha mente, expandiu-a, Legião é atual e é muito triste saber que os problemas  sociais que o Renato tratava há tempos continuam nos afetando, e talvez de maneira mais forte. Depois, passeie mesmo pelo rock, ouvi as mais variadas vertentes que o compõem, sentia mesmo preconceito por tudo que não fosse rock; a palavra já suscita: pré + conceito, ou seja, eu possuía um conceito formado sobre o que eu não conhecia, e isso foi um erro que só se desfez aos meus 17 anos.
Entendo que aos 17 eu não era mais tão moldável a modelos alheios, ai passei a ouvir MPB, bossa nova e samba de raiz. Na bossa, destacou-se para mim, o grande João Gilberto e o saxofonista Stan Getz; na MPB Chico Buarque de Hollanda e Elis Regina, e no samba, os grandes nomes de Noel Rosa, do ilustríssimo Angenor de Oliveira (vulgo Cartola) e do mestre e não menos importante Adoniram Barbosa.
Atualmente, possuo total predileção por ritmos essencialmente nacionais, como a Tropicália, o coco, o maracatu, o xaxado, o samba, o baião, enfim, os ritmos nordestinos tomam conta do meu ser, destacando-se a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto e Los Índios Tabajaras, destes últimos tratará uma postagem especial.
            Assim, encontra-se na contemporaneidade um misto de ritmos, posto que nesse momento da sociedade a vastidão de tipos humanos é incalculável. Logo, há quem ouça música apenas como passa tempo, e isso é um direito deles, Havendo também quem sinta a música brotar no mais íntimo e intocável de seu ser, tendo como refúgio e referência. A sociedade evoluiu? Sim, ela evoluiu no amplíssimo sentido do termo, entretanto, nós ainda temos vínculos políticos uns com os outros e entendemos com foco nisto, que precisamos nos adequar a moldura social.
Para mim, o descrito é uma involução, um inchaço psicotemporal que colabora para a proliferação de culturas de massa que acabarão propondo modelos unitários de pensamento e de sociedade. Se você precisa se adequar ao outro, digo-lhe que, em parte sim, afinal, somos dependentes neste processo de envolvimento global; o que não se pode é abandonar a sua personalidade, sua psique, pois, se você vive pelo que o outro dita, você vive outra vida que não é a sua, e a isso se dá o nome de “alienação plena”.
Sei que faltou muito a falar, pois, se eu fosse falar de tudo que gosto em apenas uma postagem eu teria de me internar no quarto. Mas, por fim, e agradecido por esse blog ter virado mesmo um boteco, onde amigos conversam e se reúnem, alguns, tendo mesmo passado muito tempo sem contato, e agradecido também pelo carinho, a consideração, o apoio e as palavras otimistas, termino esse cantar com uma música que me marcou e que é uma das minhas preferidas, pois nunca consegui escolher apenas uma, em se tratando da Legião Urbana, seja pela sua serenidade, pela sua inocência, pelo seu querer, ou mesmo pela sua humanidade e infantilidade, lhes apresento Giz:


Antonio Ximenes Carvalho:
Antonio Ximenes Carvalho Autor do Blog, Poeta, Contista, Bibliófilo, Cinéfilo, Apaixonado por Música, Bacharelando do Curso de Direito da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Filósofo de Boteco. Antonio Ximenes figura como um jovem em exponencial intelectualidade.

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