As pessoas divergem em muita coisa, mas com
certeza não há alguém no mundo que não se deixe encantar pela valsa de alguma
música. E é sobre esse assunto que conversaremos hoje.
Caro leitor, este que vos escreve é
pseudo-compositor, amante da música e assim como muitos de vocês, tem seus
ouvidos constantemente perfurados pela música da contemporaneidade. Não fossem
apenas os abusos, muitas vezes ainda ouvimos e comentamos músicas insanas, com
a finalidade de que essa maldita sociedade nos aceite, e é vergonhoso, mas isto
também acontece comigo, e você que está rindo, lembre-se de que também é humano
(seu santo em tamanha perfeição). Mas não nos ocupemos disto, posto que uma
leve dose matutina de 23 comprimidos de Prozac, o famoso remédio da alegria,
resolva.
A música meus doutos. Ah! A música...
Larali... Laralá..Lará - Trololololó...lolololo
- Tchu, tchá, tchá, tchú, ô dona Maria quero comer seu bolo, dentre as mais
variadas formas de compreensão do ser através do espírito sonoro. Como o
apercebido desde as canções eruditas de Mr. Catra, Valeska popozuda, e o que
dizer do pagode, o qual muitos têm por samba, e que, a cada nota me faz chorar
por toda a sua calúnia diferida contra o real ritmo brasileiro. O samba de
Cartola e de Noel Rosa. Nas sábias palavras de Arthur Schopenhauer: “a música
exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” Deve
ser por isso que tenho total repúdio por esses tipos musicais acima descritos,
acho que não os compreendo, sabe amigo? Prometo, mais uma vez aproveitando o
período eleitoral, que no dia que compreendê-los, eu me matarei.
Contudo, o perpassar pela grande engrenagem
da história é de fundamental importância para que entendamos não apenas o
motivo das sucessivas agressões ao meu ouvido, como também, a denominação de
sociedade evoluída ao todo global hodierno.
É certo que desde antes da escrita já se
produzisse música, datando mesmo, vestígios de uma flauta feita de ossos por
volta do ano de 60.000 a.C., e por volta de 3.000 a.C., a presença de liras e
harpas na antiga Mesopotâmia. O termo música é de origem grega, derivando de musiké téchne, ou seja, a arte das
musas, que na Grécia antiga designava além da música, a poesia e o teatro.
Todavia, desde sempre, o homem concebe a
música como algo maior do que a arte, entendendo-a como ente transcendental. Na
antiga Grécia, a mesma encontrava-se enleada à magia e à mitologia; além do
mais, para eles a música fazia parte do devir, ou seja, da concepção grega do
status do mundo, explicando a existência do homem e a regência divina. Na
Índia, diz-se que, o próprio Brahma ensinou o canto ao profeta Narada e este,
transmitiu-o aos demais homens. Na tradição chinesa a música confunde-se com o
chamado Huang chung, ou seja, o eterno sagrado. No Egito, há o mito de que o
deus Toth criou o mundo por meio dos sons, canções também eram usadas nas
cerimônias e ritos religiosos e militares. O povo babilônico abordava os sons
unindo-os ao cosmo em uma concepção matemática das vibrações acústicas, muitas
vezes representadas na astrologia.
Contudo, na Idade Média, a qual muitos
entendem por idade das trevas, e que não foi bem assim, pois se produziu muito,
pena que essas produções tenham ficado com os membros mais abastados e ligados
a igreja, criam-se novas concepções musicais baseadas no sagrado, tais como
hinos e cânticos que foram sendo aperfeiçoados, dando origem a estilos de canto
litúrgico, como o galicano, o moçárabe e o gregoriano.
Por volta do século XVI, tem início a chamada
música erudita. Esta, em uma definição geral é aquela que se encontra em
oposição a musica popular ou música folclórica, sendo ainda aquela que possui
clareza, austeridade, estruturação formal objetiva, limites e austeridade.
Ao
longo da história da música percebemos como a mesma está ligada a literatura em
suas fases, como o: renascentista, o canônico, o barroco, o clássico, o
romântico, o moderno, dentre outros.
O ilustre pensador suíço, Jean Jacques
Rousseau, concebe a musicalidade afirmando-a assim: “mesmo que toda a natureza esteja adormecida, o que a contempla não
dorme, e a arte do músico consiste em substituir a imagem insensível do objeto
pela dos movimentos que a sua presença excita no coração do contemplador: não
só ele agitará o mar, animará a chama de um fogo, fará correr os ribeiros, cair
a chuva e aumentar as torrentes, como pintará o horror de um deserto medonho,
denegrirá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a tempestade, tomará
tranquilo e sereno o ar, e da orquestra espargirá nova frescura sobre os
bosques”.
Conheci o que chamo de música por volta dos
13 anos, quando me foi apresentado a banda do Paulo Ricardo, o RPM; fiquei fixo
na TV por horas ouvindo aquela sonoridade pulsante do rock embebida em letras
de protesto que interagiam com minha freqüência cardíaca de quase adolescente. Apaixonei-me por rock, àquela época eu passava
por muitas mudanças, sabe? Tudo era estranho, você é estranho e sua família não
entende que você é diferente. Perdi-me em Riffs e solos, de Black Sabbath a Guns’n
Roses. Foi um período de transformação que todas as pessoas passam,
principalmente as esquisitas (onde me encaixo), tive fases melancólicas, ainda
as tenho, ah! Todo escritor tem, e isso, talvez por ser muito passivo a
sentimentos fortes. Logo depois meu pai montou uma locadora e pude conhecer um
pouco da Legião Urbana, no álbum - Mais do Mesmo. Escutem, Legião Urbana não é
apenas música, é sonho, é grito de protesto, é liberdade, é caricatura de jovem.
Ouçam Legião também, o Renato Manfredini era um ser em contraste, um cara ímpar
que nasce de milênio em milênio, o cara forjou minha mente, expandiu-a, Legião
é atual e é muito triste saber que os problemas
sociais que o Renato tratava há tempos continuam nos afetando, e talvez
de maneira mais forte. Depois, passeie mesmo pelo rock, ouvi as mais variadas
vertentes que o compõem, sentia mesmo preconceito por tudo que não fosse rock;
a palavra já suscita: pré + conceito, ou seja, eu possuía um conceito formado sobre
o que eu não conhecia, e isso foi um erro que só se desfez aos meus 17 anos.
Entendo que aos 17 eu não era mais tão
moldável a modelos alheios, ai passei a ouvir MPB, bossa nova e samba de raiz.
Na bossa, destacou-se para mim, o grande João Gilberto e o saxofonista Stan
Getz; na MPB Chico Buarque de Hollanda e Elis Regina, e no samba, os grandes
nomes de Noel Rosa, do ilustríssimo Angenor de Oliveira (vulgo Cartola) e do mestre
e não menos importante Adoniram Barbosa.
Atualmente, possuo total
predileção por ritmos essencialmente nacionais, como a Tropicália, o coco, o
maracatu, o xaxado, o samba, o baião, enfim, os ritmos nordestinos tomam conta
do meu ser, destacando-se a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto e Los Índios Tabajaras,
destes últimos tratará uma postagem especial.
Assim,
encontra-se na contemporaneidade um misto de ritmos, posto que nesse momento da
sociedade a vastidão de tipos humanos é incalculável. Logo, há quem ouça música
apenas como passa tempo, e isso é um direito deles, Havendo também quem sinta a
música brotar no mais íntimo e intocável de seu ser, tendo como refúgio e
referência. A sociedade evoluiu? Sim, ela evoluiu no amplíssimo sentido do
termo, entretanto, nós ainda temos vínculos políticos uns com os outros e
entendemos com foco nisto, que precisamos nos adequar a moldura social.
Para mim, o descrito é uma involução, um
inchaço psicotemporal que colabora para a proliferação de culturas de massa que
acabarão propondo modelos unitários de pensamento e de sociedade. Se você
precisa se adequar ao outro, digo-lhe que, em parte sim, afinal, somos
dependentes neste processo de envolvimento global; o que não se pode é
abandonar a sua personalidade, sua psique, pois, se você vive pelo que o outro
dita, você vive outra vida que não é a sua, e a isso se dá o nome de “alienação
plena”.
Sei que faltou muito a falar, pois, se eu
fosse falar de tudo que gosto em apenas uma postagem eu teria de me internar no
quarto. Mas, por fim, e agradecido por esse blog ter virado mesmo um boteco,
onde amigos conversam e se reúnem, alguns, tendo mesmo passado muito tempo sem
contato, e agradecido também pelo carinho, a consideração, o apoio e as
palavras otimistas, termino esse cantar com uma música que me marcou e que é
uma das minhas preferidas, pois nunca consegui escolher apenas uma, em se
tratando da Legião Urbana, seja pela sua serenidade, pela sua inocência, pelo
seu querer, ou mesmo pela sua humanidade e infantilidade, lhes apresento Giz:
Autor do Blog, Poeta, Contista, Bibliófilo, Cinéfilo, Apaixonado por Música, Bacharelando do Curso de Direito da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Filósofo de Boteco. Antonio Ximenes figura como um jovem em exponencial intelectualidade. |
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