segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Divagações


            Hoje venho escrever inquieto, tanto sobre as considerações que serão expostas, quanto ao meio de fazê-las. Traçaremos aqui não um discurso técnico a respeito do tema, pois o devem saber os seguidores deste espaço que ele se dedica antes a reflexão que a cusparada. Então, se acheguem mais, puxem um tamborete e comecemos a conversa.         
            O tema de hoje é filosofia, a delimitação antes de ser a corrente existencialista, é sua mente e sua preguiça. Deixe-se pensar, permita-se ser louco por alguns instantes e aí verá que loucura é um grande exercício, é a consideração do real, a busca pela verdade como ela pode ser em suas mais variadas perspectivas; sobriedade ao contrário é sufoco e conforto, o homem que é cômodo não vive como ser humano, mas como vegetal.
            O nascedouro do que nos propomos hoje nesta conversa é o meu ócio, quando da atividade fisicamente cansativa em busca de algo interessante à frente da TV, possuindo como instrumento apenas o controle do receptor e o farfalhar dos dedos em esfregaços e apertos; de repente como em brumas de sonho encontro um programa de codinome Livros que amei, da TV Futura; nele me atenuo com a condensação do compositor e escritor Fausto Fawcett e do filósofo José Thomaz Brum, falando sobre Cioran e sua obra. Esse foi meu primeiro contato com a obra do Romeno.
            No que concerne a Cioran, (longe de mim tecer biografias quem quiser que pesquise), talvez a radicalidade do seu pensamento tal qual um Schopenhauer ou um Nietzche, e embebido o pensar em poética como um Rimbaud tenha sido o que teve em mim o efeito de admirar sua obra e colocações nas leituras posteriores.
            Nisso podem até achar que o pessimismo casa muito bem comigo a partir dos citados, e que pensem, pois, não dependo de forma alguma do vosso pensar (me engano nisto e no decorrer do texto verão o motivo, espero.),  no entanto não é essa categoria que me incita nesses escritores e sim a força como seus manifestos são estruturados, sem medo de falar algo, colocações maioria agressiva, lirismo forte; coisas que o humano normal tem medo de expor e até medo de pensar sobre elas e, percebam que pensar é a unidade básica do ser. Imaginem o humano refletindo (bolachas)?
            No entanto o que suscita essa conversa de hoje é um filosofar de boteco que tive com o amigo Diogo de Alencar sobre o tema solidão, refletido, mas não representado pela citação de Cioran que diz: “A única experiência profunda é a que se realiza na solidão”, e também pelo comentário de José Thomaz Brum, o qual vocês poderão observar no vídeo em anexo, em que o mesmo exporá: “O ponto de vista mais certo pra você pegar a essência dos seres é a solidão, porque é a solidão aquilo que está oculto num salão, numa festa, num casal, numa conversa. Ah! e são maneiras de você olha e, ostentando, eu acho que é isso, ostentando, não sou só. Mas se morre só, se decide só, se sofre só e os prazeres também são solitariamente vividos, podem ser compartilhados os prazeres em hipótese...
            Antes de discursar sobre o tema gostaria de fazer a ressalva de que aqui não nos propomos a estudar Cioran nem a representar o seu pensamento, ele foi apenas o que incitou essa conversa.
            Sem mais delongas, propus ao amigo Diogo a seguinte indagação: - Na mais íntima parte de nós e se formos realmente sinceros aceitaremos a realidade do ser como essencialmente solitário, contudo será boa ou ruim essa solidão? E ainda meu caro a sociedade contemporânea é a superação dos antigos três estados: a natureza, a religião e o iluminismo. Somos uma massa que se constrói num turbilhão de estereótipos e por conseqüência nunca fomos tão hipócritas, nem tão dependentes um do outro.
            Vamos lá afunilar essas idéias para depreender uma verdade sobre.
            Se eu compro uma determinada roupa ela está carregada de juízos que as pessoas terão sobre mim a partir do uso dela, logo, o eu individual não compra a roupa, o eu individual compra aceitação, uma vez que nossa sociedade é fielmente capitalista. Tudo que se faz é em benefício de ser aceito. Cioran assinala em sua obra que o homem se reconhece em duas vivências: no amor e no sofrimento, haja vista que ambos sejam frutos de um primitivo estado de solidão.
            Na conversa chegamos à peculiar basilaridade de que tudo o que nós seres humanos fazemos é em virtude de um complemento que nos transcenda o estado solitário (com isso quero dizer a presença do outro, a aceitação dos outros), isso em parte é claro, posto que a solidão seja amálgama indissociável do ser humano. Contudo, três foram as conclusões a que chegamos:

- A primeira é a de que o homem atua essencialmente na busca da superação de seu estado solitário para ser aceito socialmente. Ele trabalha pra ficar rico por isso, ele se veste bem por isso, ele aprende coisas por isso, vai a festas por isso. Enfim, o meio não importa, a finalidade é se sentir no outro, talvez seja esta a geratriz da uniformização de comportamento e da singularidade pessoal tão presentes na pós-modernidade.

- A segunda é que dado o gênio do ser humano como ser multideterminado não podemos apenas disparar blasfêmias indicando a benevolência ou a malevolência da solidão, todavia, podemos indicar que dependendo da natureza do ser ela representará duas correntes: o sofrimento ou o amor.

- A terceira é de que ela representa traço marcante, e até que nos enredamos conosco irá pairar sobre nossas cabeças como corvo, roubando nossa subjetividade externa.  Nesse caso indiquei o seguinte exemplo ao amigo: se eu não me vestir bem não sou aceito, por isso odeio roupas que se use, posto ser o comum ou que traga a benesse do aceito (que é? também sou humano), mas, por enquanto é o único meio de eu me manter como agente dessa sociedade monolítica. Contudo, quando eu já houver meio que envelhecido (permitam-me a colocação da forma como foi feita), ou conseguido alçar os vôos que me comprometo na idade presente, ou ainda graças também a vantagem intelectual de aceitação do eu pelo eu que a idade trará poderei vestir as roupas que quiser e agir da forma como quiser de maneira confortável (de forma que minha mente não se sinta alheia); em outra consideração talvez possa ser aceito pelos outros por determinada posição já ostentada ou por nível intelectual conseguido, porém, de forma colossal me aceitarei por que o meu espírito não carecerá fragilmente e factivelmente dos males da solidão juvenil.





sábado, 5 de janeiro de 2013

O Despertar de Acordeón e Violão.


Caros leitores é com grande afronta que venho aqui hoje (e pasmem) sem nenhum pedido de desculpas ou remorso. (Vocês já são grandinhos, sabem até somar, devem saber então que as coisas são como o são), quero com essa postagem apenas indicar que a MusicariaBarcoteca não morreu. 
Pela leitura desse breviário com tom de profecia trago-lhes a mais fina arte musical na figura de dois colossos da música instrumental brasileira, Renato Borghetti e Arthur Bonilla. Por favor, fechem os olhos e sintam a canção, permitindo-se bailar, não o ritmo, mas o íntimo sonho travestido de sonoro.